Tendo vivido realidades diferentes – instituição pública, pequena empresa, start-up e grande corporação – e visto fórmulas fracassarem em todos os modelos, fiquei com vontade de falar sobre alguns e, se me permitem, dar algumas dicas baseadas na experiência vivida até então.
Para não ficar muito extenso e por afinidade entre os modelos, vou apenas confrontar a realidade das start-ups e das grandes corporações. Não tenho intenção de definir nenhuma regra ou a pretensão de que alguém vá seguir minhas dicas, mas se você achar coerentes, eu ficaria feliz em saber. Da mesma forma, se você discordar das observações, adoraria ter sua visão expressa nos comentários.
Começando com pique total
Toda start-up tem mais ou menos as mesmas características: uma idéia bacana, pouco dinheiro, muita vontade de fazer dar certo, ambiente descontraído e com hierarquia flat, sem horário para entrar ou sair do trabalho e muito orgulho das pequenas vitórias. Com bastante trabalho e alguma sorte, chama atenção de um investidor e ganha fôlego para mais tempo e estrutura.
Uma start-up não fica com esse rótulo por muito tempo. Se ficar, é um sinal de que não está dando certo, pois não se sustenta, continua sendo bancada pelo investidor e não gera retorno o suficiente para crescer. O principal objetivo de uma start-up é incubar uma idéia para fazê-la crescer e poder ir para o mercado com alguma segurança, não para ser um petproject eterno.
Empresas nesse modelo funcionam melhor com metodologias ágeis, pouca ou nenhuma hierarquia, liberdade criativa para os participantes e flexibilidade. É comum start-ups adquirirem a síndrome da grande empresa e começarem a criar cargos e árvores inúteis dentro da empresa que está apenas nascendo. Daí surgem diversos “diretores”, “CEOs”, “CFOs” e etc. Imagine você uma empresa com 5 pessoas, das quais 3 são “diretores” de algo. Muito cacique para pouco índio.
Ficar aprisionado no business plan é outro problema. O mercado muda constantemente e a grande vantagem de uma start-up é justamente poder se adaptar rapidamente í s demandas do mercado. Embrace the changes. Admita que seu plano anual vai mudar pelo menos 2 vezes ao longo do mesmo e não sofra com isso. Aprenda. Empreenda. Mudar está no seu DNA e quando se é pequeno isso pode se transformar em oportunidades, diferente do que acontece com grande corporações.
Um caminhão carregado em alta velocidade e sem direção hidráulica
Imagine a situação e pense que pode aparecer um buraco em seu caminho. Se você consegue enxergá-lo í distância, será fácil desviar dele sem comprometer seu caminhão. Agora, se o buraco aparece de repente, ou você mantém o curso e torce para não estourar o pneu, quebrar uma mola, estragar a sua carga, ou arrisca uma manobra rápida, correndo o risco de capotar e dar perda total.
Grandes corporações são assim. Exigem uma organização muito maior, divisão dos trabalhos, criação de processos, maior planejamento e previsões, muito mais gente e muito mais dinheiro. Infelizmente, quanto mais pessoas, quanto mais processos, maior o perigo de ser engolido ou paralisado pela burocracia que se cria naturalmente, se perder nas hierarquias e disputas de poder, ser acomodado dentro de políticas diversas.
São realidades bem diferentes. O que a start-up tem em agilidade e inovação, a corporação tem em dinheiro e abrangência.
Reduza o risco das roubadas
Para donos de Start-ups:
- Enxugue seu quadro. Quanto mais gente, menor o foco e maior a chance de problemas;
- Contrate pessoas sem preconceitos, sem opiniões formadas e com a mente aberta para o risco. Melhor segurar um louco que empurrar um burro;
- Não crie hierarquias desnecessárias, mas delegue responsabilidades. Pontos focais são importantes;
- Se assegure de que todos na equipe estão comprometidos com o projeto, não apenas envolvidos;
- Seja transparente o quanto necessário. Compartilhe informações da empresa com o time e permita que as pessoas dêem sugestões de ações. Mas lembre-se, a decisão é sua;
- Inove, seja criativo, arrisque. Nem sempre é necessário dinheiro para ter sucesso em ações empresariais;
- Seja ágil, não tenha medo de mudanças no meio do caminho. Aproveitar uma mudança pode ser a decisão entre sobreviver e fechar.
Para componentes de uma corporação:
- Planeje com antecedência. Preveja gastos e assegure-se poder arcar com eles;
- Organize as pessoas, definindo responsáveis por áreas. Bons gerentes possuem em média 3 diretos, mas isso não significa começar a criar cargos inúteis;
- Evite a burocracia. Defina processos flexíveis e que possam sofrer alterações de acordo com a prioridade. E não foque no processo, mas no resultado dele. Se o processo está atrapalhando o resultado, mude o processo;
- Política não deve ser a base de seu trabalho. Onde há hierarquias, há jogos de poder. Evite entrar neles ou incentivá-los, pois o foco sempre desvia da direção necessária: o negócio;
- Questione sempre. Não é porque algo está implementado há muito tempo, que não pode ser otimizado. O caminhão í s vezes precisa mudar de faixa para fazer uma ultrapassagem.
E para donos e componentes de pequenas empresas, uma dica apenas: não se afaste do modelo start-up tanto ao ponto de ser uma mini-corporação. Aproveite o que essas empresas possuem de melhor e adapte ao seu modus operandi.
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