O usuário é a maior falha de segurança que existe

“Olá! Sou o primeiro ví­rus português.

Como nós portugueses não temos experiência em programação, este ví­rus trabalha baseado num sistema de CONFIANÇA. Por favor: apague todos os arquivos de seu disco rí­gido manualmente e envie essa mensagem a todos os membros de sua lista de e-mail.

Obrigado por sua colaboração.”

Ok, admito que essa é uma piadinha infame, mas reflete bem o que eu gostaria de dizer.

O ano era 1992 e eu, um garoto de 14 anos, monitor de aulas práticas (uma espécie de estagiário) de um cursinho de informática bastante conhecido, na época, em Salvador. Nas minhas horas vagas eu estudava programação e as interações dos programas com o sistema operacional e a máquina em si – sim, era na época que eu não gostava de gente, só de máquina.

Um dia tive uma idéia “sensacional” e criei um arquivo executável chamado “VIRUS.EXE”. Numa época onde quase todos os computadores tinham apenas drives para disquetes, pouquí­ssimas com HD, eu deixei minha invenção terrí­vel em apenas uma máquina de uma das salas que possuiam computadores com HDs. O temí­vel ví­rus procurava dentro do disquete o primeiro programa executável da lista e embaralhava ele – na verdade só invertia os dados – e no final “assinava” o texto “virus”. Era o suficiente para saber, numa próxima execução, que o arquivo já havia sido “infectado” e partir para o próximo da lista. Após isso ele se autocopiava para o disquete.

Em uma semana, vários dos alunos apresentavam disquetes com mal funcionamento (normalmente o primeiro arquivo executável da lista era o próprio sistema operacional) e “assinados”. Como eu normalmente era quem fazia limpezas em disquetes de alunos – isso é trabalho de estagiário, afinal – já sabia o problema e recuperava rapidinho.

Mas o que me assustou bastante foi que minha “experiência” vazou. Saiu do laboratório restrito a 10 computadores e foi parar nos alunos. Veja bem, o meu “ví­rus” era “português”, a pessoa TINHA que executá-lo (putz, quem executaria um arquivo chamado “virus”?) para que ele funcionasse. E precisava executá-lo várias vezes para ter mais de um arquivo corrompido.

Da mesma forma, hoje, as pessoas continuam baixando e executando ví­rus, clicando em links sem ao menos LER o que está escrito. Recentemente, fiz uma outra experiência social para provar que as pessoas não leem e publiquei os resultados. Dessa vez o experimento não fazia nada, além de alertar os incautos – a gente cresce e amadurece. O experimento nada mais era que um texto contendo um tí­tulo atraente como “roubar senhas do msn” e uma explicação dizendo que aquilo era apenas um experimento e nada iria acontecer. No parágrafo que antecede uma caixa de formulário e um botão, há o aviso de que aquilo não funciona.

Incrivelmente, 90% (NOVENTA PORCENTO) das pessoas que caí­ram naquele texto, digitou um e-mail e clicou no botão. Noventa! E até hoje essa é uma das páginas mais acessadas do tal blog e o botão continua sendo clicado freneticamente.

Preguiça? Analfabetismo funcional? Digital? Não sei, mas que isso é bem preocupante, ah isso é. A grande pergunta que fica é: se eu pedisse que a pessoa digitasse o e-mail e a sua própria senha do serviço, você acha que ela não digitaria?

Foto: TedRheingold

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