• Um príncipe em NY
    Internet,  Segurança

    Sargento Mark Smith ou O golpe mais antigo da Internet (e pelo visto, imortal)

    Esses dias uma amiga minha me pediu ajuda para encontrar a origem de um número de telefone, do Sargento Mark Smith. Inicialmente eu apenas ajudei na tarefa e depois algo me despertou a perguntar do que se tratava, já que era um número internacional, vindo do continente africano. Fiquei curioso. Era o golpe do príncipe nigeriano, só que reciclado.

    A mãe dessa amiga, uma pessoa que não é tão ligada em coisas de Internet, bem low tech mesmo, havia recebido uma série de mensagens de um homem que se dizia apaixonado por ela, fez juras de amor, promessas de se verem em breve, etc. E ela interagiu, não chegou a se questionar as coisas que pessoas mais desconfiadas ou não tão ingênuas se questionariam. Ou seja, deu corda para o golpista.

    Montagem de passaporte
    A foto enviada do passaporte é uma montagem grosseira cuja original eu achei no Pinterest.

    O homem dizia se chamar Mark Smith (algo como José Silva no Brasil, um nome bastante comum), mandou foto com montagens toscas de passaporte e de um “cartão de identificação do US Army” (as Forças Armadas dos EUA). Dizia ser sargento do exército em atividade na Síria e fazendo os preparativos para “voltar para casa”. Aí é que vem o golpe.

    “Mark” diz que ele se seus colegas juntaram um dinheiro “por conta de suas boas ações” e que estão tentando enviar o dinheiro para seus países, mas por conta da guerra na Síria, tinham sérias restrições por conta de leis e regulamentações. A forma de lidar com isso seria enviar através de terceiros, e que seus colegas estariam fazendo isso através das esposas, porém, como ele não tem esposa, queria enviar o dinheiro para a mãe de minha amiga. Seriam US$ 800.000 – oitocentos mil dólares – enviados para uma pessoa que ele não conhece. Enviou foto da mala de dinheiro e dos “colegas” fazendo a partilha. Faz todo sentido, certo?

  • Internet

    Cães sendo usados como iscas de tubarão?

    A história é comovente: pescadores franceses usam cachorros e gatos como iscas vivas para pescar tubarões. A foto também é bem comovente e apelativa, às vezes apresenta um cão com os lábios superiores no anzol, em outra o anzol está nas narinas do animal.

    Pesquisando sobre a história que está sendo (novamente) espalhada, dessa vez pelo Facebook, com uma petição para que esse absurdo acabe, eu descobri que a história não é totalmente mentirosa. Mas também não é toda verdade.

    Cachorros e gatos, vivos ou mortos

    Há bastante tempo, em 2005, as autoridades foram alertadas sobre a utilização de cães e gatos, vivos ou mortos, como iscas de tubarão. Isso aconteceu numa pequena ilha afastada da costa africana, território francês, chamada Réunion. A prática, considerada ilegal e totalmente proibida, era obra de alguns pescadores amadores, que se aproveitaram do fato de que cães e gatos eram considerados uma “praga” na pequena ilha (havia superpopulação desses animais), para capturá-los e utilizá-los dessa forma. A maioria dos animais era abatida antes da pesca.

    O fato foi denunciado às autoridades e divulgado pela imprensa, atingindo um nível tão grande que envolveu o governo francês, entidades protetoras dos animais internacionais e até mesmo a Família Real Britânica.

    Na ilha de Réunion, como em diversas partes do mundo, maltrato de animais é crime, e nesse caso específico, até mesmo a pesca de tubarões é ilegal e proibida, não importa o tipo de isca utilizados. Assim, esse caso, embora real, foi tratado como um caso isolado, praticado por um grupo muito pequeno de pescadores amadores, totalmente coibido e sem registros de que tenha voltado a acontecer.

    A parte mentirosa da história

    Livro disponível na Amazon ajuda a não ser vítima de mentiras

    Boa parte das fotos divulgadas, principalmente as que ilustram esse texto, são montagens ou meias-verdades. A mais famosa e principal, do labrador, não é montagem. No entanto acredita-se que o cão, que se tratava de um animal de estimação e que fora encontrado com o gancho nos lábios superiores, seja vítima de um acidente com o gancho, podendo ter sido provocado por ele próprio.

    A principal justificativa é ele ter sido encontrado livre e com vida, mas também pelo fato de que um anzol preso nessa parte do corpo do animal não teria o efeito esperado para ser utilizado como isca, já que o mínimo movimento mais bruto poderia fazer a pele rasgar e o anzol se desprender. Isso também derruba a teoria de que ele teria escapado dos pescadores, pois o gancho não apresentava sinais de ter sido forçado.

    A segunda foto, do filhote com gancho do anzol no nariz, é montagem.

    Conclusões sobre a história dos cachorros usados como isca

    • A história é verdadeira, mas foi um caso isolado e criminoso, não uma prática, como as pessoas queriam fazê-lo acreditar
    • Boa parte das imagens usadas para divulgar a prática são falsas, montagens toscas ou meias-verdades
    • As autoridades já puniram e coibiram os atos de 2005 e nenhum outro caso foi registrado desde então
    • Divulgar essa história só vai causar confusões e aumentar a mentira ainda mais, por isso:
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