Babilônia é o retrato do exílio, do cativeiro de um povo; simboliza o império cuja ruína ecoa nas profecias. Para os heróis deste romance - colonos escoceses isolados nas terras selvagens da Austrália em meados do século XIX -, Babilônia é a imagem do destino que eles foram buscar para si mesmos. Longe de suas raízes, desafiados pela imensidão, pelos encantos e perigos de um continente desconhecido, eles reagem a tudo o que soa como ameaça: as matas, os pântanos e também os habitantes nativos, a quem chamam de negros. Assim, passam sutilmente de oprimidos a opressores. O cruzamento desses dois mundos inconciliáveis irrompe numa figura insólita, o protagonista do romance - foco dos temores, do racismo em embrião, mas também da possibilidade de algum entendimento. Trata-se de um adolescente inglês abandonado por marinheiros numa praia australiana e depois recolhido por um grupo de aborígines, com os quais vive por dezesseis anos. Quando reaparece entre os colonos, é olhado como um misto de criança e animal, como um espantalho em que de algum modo ardera a centelha da vida, e é chamado de "o homem branco negro". A natureza e o mundo aborígine são representados por David Malouf com uma linguagem poética vigorosa. O efeito de cada palavra é medido, para dar forma ao caos dos temores e das esperanças e transformá-lo numa aguda reflexão literária.