Livro - Poder e Terrorismo

O terror independe se seus seguidores sejam uma organização muçulmana secreta ou a mais poderosa nação mundial. E é muito mais extremo quando praticado pelos fortes. A administração Bush, por exemplo, definiu sua invasão ao Iraque como uma missão de democracia e liberdade. (...) quando alguém pratica o terrorismo contra nós ou contra nossos aliados, isso é terrorismo, mas, quando nós ou nossos aliados o praticamos contra outros, talvez um terrorismo muito pior, isso não é terrorismo, é antiterrorismo ou guerra justa?, alerta Noam Chomsky, aclamado como o mais importante intelectual vivo e o mais eloqüente pensador contemporâneo em campanha pela democracia.
Em Poder e Terrorismo, Chomsky, ativista político, escritor e lingüista, concentra sua crítica à política externa e aos problemas domésticos norte-americanos num princípio simples: aplicar a si mesmo os padrões éticos e morais que se busca nos outros. Considerado "um Rousseau do século XX", o autor argumenta como os Estados Unidos poderiam ser considerados culpados sob suas próprias leis antiterrorismo, já que ignoram veredictos de organismos mundiais como a ONU. A distinção entre terrorismo e contra-terrorismo é, muitas vezes, uma questão de perspectiva, embora o último tenda a ser ainda mais absurdo. "É a total inabilidade de reconhecer os próprios crimes", comenta.
Poder e Terrorismo traz, em tom informal, novas idéias e entrevistas de Chomsky na era pós-11 de setembro, além de uma conversa inédita, que se tornou base do celebrado documentário Power and Terror, dirigido por John Junkerman. Fundamentado numa série de palestras realizadas pelo autor em Nova York e na Califórnia, o livro põe em perspectiva as intervenções americanas no pós-guerra. Chomsky comenta as ações dos Estados Unidos além do Iraque, com seus aliados infligindo terror em sociedades menos favorecidas, como o massacre dos curdos pelos turcos na década de 1990. Analisa, ainda, as raízes do conflito Israel-Palestina e a transformação de Israel em um posto militar avançado dos Estados Unidos no Oriente Médio, e os primórdios da atuação americana na região. Fala, de forma clara e contundente, sobre conflitos na Ásia, África e América Latina. Em todos os casos, Chomsky esclarece que muito dificilmente a mídia norte-americana apresentará uma cobertura isenta, oferecendo um levantamento completo das mortes e do sofrimento causados pelo terror imposto pela política externa opressiva de George W. Bush.
A segunda parte do livro traz uma análise da mídia e aponta tendências para o futuro da superpotência militar, detentora de poder com impacto determinante sobre qualquer fato da história contemporânea. Apesar das denúncias sobre as tragédias do poder e do terrorismo, estes textos embutem uma visão esperançosa, enfatizando o quanto o ativismo popular conquistou nas últimas décadas. A notoriedade de Chomsky deriva de sua militância: está entre os mais ferrenhos críticos da única superpotência mundial restante e personifica coração e alma do movimento progressista.