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Zuckerman acorrentado
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Nathan Zuckerman não é um escritor de levar desaforo para casa. E não são poucos os desaforos e despropósitos que desde o inÃcio de sua carreira ele é obrigado a ouvir. Justo ele, que sempre pretendeu ser um escritor sério, com preocupações morais elevadas, na linha de Thomas Mann. Porém, como Zuckerman sabe, seu forte é a comédia -, em especial, as piadas de judeu. E o establishment judaico não o perdoa por isso. Nem seu pai, nem seu irmão caçula e, em certa medida, nem ele próprio.
Em Zuckerman acorrentado, Philip Roth conta a saga desse escritor. São três romances - O escritor fantasma, Zuckerman libertado e A lição de anatomia - publicados pelo escritor entre 1979 e 1984 e que, um ano depois, foram reunidos em um volume único, em que está incluÃda a novela A orgia de Praga, que serve de epÃlogo à trilogia. São quatro narrativas distintas, porém ligadas por um fio condutor: Nathan Zuckerman, neto de judeus poloneses que emigraram para os Estados Unidos no inÃcio do século XX, é um escritor obcecado pelos judeus e por suas histórias. Mas não pelos judeus que permaneceram na Europa e foram dizimados pelos nazistas, nem pelos que partiram para a Palestina para se dedicar heroicamente à construção da pátria judaica. Não, os judeus que interessam a Zuckerman são as pessoas com as quais ele conviveu na infância e na adolescência, judeus que moram nas ruas arborizadas, tranquilas e banais dos bairros de classe média das grandes cidades americanas, judeus cuja experiência de vida se inscreve não na tragédia do Holocausto, mas na realidade bem mais comezinha de uma sociedade caracterizada pelo apreço à democracia e à liberdade - e movida por um consumismo desenfreado.
Acontece que, para complicar as coisas, Zuckerman é um escritor de mão-cheia, capaz de conferir a suas narrativas o brilho e a efervescência da vida real. E os leitores - dos mais ingênuos aos mais tarimbados crÃticos literários - acreditam piamente nelas, esquecendo-se de que estão diante de obras de ficção. De modo que um pequeno conto que o jovem Zuckerman escreve aos 23 anos, baseado num episódio burlesco ocorrido com familiares seus, é imediatamente visto como um ataque difamatório a seu próprio povo, uma incompreensÃvel tentativa de expor os judeus ao ridÃculo, comparável, no frigir dos ovos, às maledicências antissemitas de Goebbels. E, anos depois, com a publicação de um livro escandaloso que cai como uma luva no espÃrito libertário dos anos 1960, as censuras à sua ficção ganham contornos ainda mais absurdos - dizem até que são as revelações picantes contidas nesse livro que provocam um enfarte em seu pai.
Dotado de uma Ãndole em que, como acontece com tantos personagens de Roth, a indignação vem logo à tona, Zuckerman responde ao disparate das crÃticas com invenções verbais cada vez mais iradas, extravagantes e engraçadas. Mas paga caro por isso.
Sobre O escritor fantasma: “Mais uma evidência de que Roth pode fazer praticamente tudo com a ficção. Seu poder narrativo [...] é sublime.†- Washington Post