Livro - Mãos de Le Corbusier

Um dia lhe perguntaram: "Mas, afinal, o senhor tem um truque, um método? Como consegue fazer tudo o que faz?". E ele respondeu, simplesmente: "É que minha mãe me disse: faça bem-feito tudo o que você fizer". Num outro dia, durante uma viagem, olhamos por acaso para um varredor de rua. Le Corbusier me disse: "Sabe, Wogenscky, o que aquele homem faz é tão importante quanto o que eu faço". Estupefato, pedi que me explicasse por quê. E ele explicou: a conseqüência dos atos é a qualidade do que é feito. O que nós decidimos fazer, nossa profissão, por exemplo, é menos importante que o valor do resultado e a exigência que temos em relação a ele. Procurar fazer tudo bem-feito leva a construirmos a nós mesmos, incansavelmente, assim como se constrói uma casa. A qualidade do resultado decorre dessa construção de si. Esse foi um dos exemplos mais marcantes que recebi de Le Corbusier: essa espécie de luta exigente consigo mesmo, com esse eu que nunca está acabado enquanto vivemos, que tem de ser construído, polido, que é um devir erigido dia a dia. Já não me lembro quem disse: "fazer da vida uma obra de arte". Le Corbusier poderia ter dito: "fazer da vida uma arquitetura".
André Wogenscky