Aprensentando Os prazeres e os dias ao público francês de 1896, e ressaltando a maturidade dessa obra de um autor no entanto jovem - Proust tinha então 25 anos, Anatole France escrevia: "É a primavera das folhas sobre os ramos antigos, na floresta secular". De fato, o livro marca a estréia literária de Marcel Proust, reunindo contos e poemas de juventude, nos quais já estão presentes os temas que ocupariam as reflexões do escritor por toda a sua vida e na monumental obra Em busca do tempo perdido: as correspondências e contrastes entre a sensibilidade artística e a vida na sociedade francesa, entre os estados da natureza e as emoções da alma, entre as recordações da infância e as frustrações da vida madura, entre os sonhos irrealizáveis e a realidade da morte, entre as vaidades da paixão mundana e as aflições do amor ideal. Conduzido por uma prosa refinada, o livro se abre como um vasto painel da alta sociedade parisiense do final do século XIX, e o êxito com que o escritor consegue captar a sensibilidade mesma dessa sociedade é surpreendente, de modo que o maior mérito de Os prazeres e os dias talvez seja a delicadeza e profundidade com que o escritor apreende o espírito de seu tempo, em suas mais variadas e coloridas manifestações. Ademais, a atenção e a sensibilidade com que Proust se dedica aos mais delicados matizes, às transições mais sutis do espírito e da natureza, sua capacidade de captar e exprimir com raro talento essa filigranas da vida, conferem ao texto de um valor poético de primeira ordem. O leitor ainda encontrará no centro de Os prazeres e os dias um pequeno conjunto de jóias raras: os oito poemas que Proust escreveu sobre pintores e músicos, que revelam um aspecto praticamente desconhecido da produção do escritor - a poesia. Tamanha riqueza literária e humana, contida num mesmo livro, corrobora a impressão que Anatole France expressa em seu prefácio à primeira edição de Os prazeres e os dias, que integra o presente volume: "Ele nos atrai, retém-nos em uma atmosfera de estufa quente, entre as sábias orquídeas que não alimentam na terra a sua estranha e mórbida beleza."