No reino dominado pelo general lobo, a ordem era bem clara: não existiam mais coelhos e, a partir daquela data, ficava proibido até mencionar o nome das simpáticas criaturinhas. Para ter certeza de que seria obedecido, o novo rei resolveu examinar pessoalmente todos os livros que existiam, riscando, tomando medidas drásticas, sempre seguido por sua conselheira, uma raposa de pelo cinza. O lobo só descansou quando se convenceu de que seus inimigos tinham desaparecido para sempre.
Mas essa não era exatamente a verdade. Logo os pássaros armaram uma confusão danada, tratando de espalhar a notícia pelos quatro cantos do reino. Barulhentos, inquietos e insolentes como só eles sabem ser, acrescentaram que Sua Lobestade tinha cometido um erro, que a tal ordem de extermínio perdera-se no vento e que o mundo estava cheio de coelhos.
O trono tremeu. Cego de raiva, o lobo arrebentou moinhos, expulsou os esquilos das árvores, derrubou as ovelhas, abriu buracos no chão para que os cavalos quebrassem a perna. Quanto mais raivoso ficava, entretanto, mais narizes curiosos, pares de orelhas peludas, bigodes e dentinhos famintos insistiam em aparecer. Uma questão de mágica que só as crianças eram capazes de pressentir.