Livro - Dália Azul, A

A Dália Azul, o gibi: eis a obra-prima do desprazer. Que fique bem claro: desprazer para os seus criadores, não para os leitores. São inúmeros e variados os exemplos de discos geniais gravados por gente que não se falava ou filmes clássicos no qual os atores e diretores não se suportavam. O frio Tony Curtis sendo obrigado a beijar a gélida Marilyn Monroe em Quanto Mais Quente Melhor. Lennon disputando com MCartney quem jogaria a pá de cal sobre os Beatles. Tom Jobim em guerra com João Gilberto durante a gravação de Chega de Saudade. No mundo da cultura popular, a harmonia raramente gera boas harmonias. Só o ódio constrói. Mas, ainda assim, podemos imaginar que a grande maioria dos artistas envolvidos nessas batalhas que são as obras coletivas tem a crença de que seu auto-sacrifício tenha sido recompensado e que, ao final de tudo, os artistas admiram, orgulhosos, aquele grandioso monumento construído à custa de traições, ressacas, crueldades, autodestruição, divórcios, perdas de amizades, tédio colossal e canalhices diversas. Não é o caso de Raymond Chandler e Filippo Scózzari e esta sua magnífica A Dália Azul. Eis aqui uma legítima filha renegada.