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Livro - Morte na praça
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Entre nossos contistas, ninguém usa o recurso da elipse com mais propriedade que Dalton Trevisan, enxuto na linguagem sem ser indigente na substância. Não despoja a escrita até aquele limite suspicaz em que, sob denominações como ?linguagem telegráfica? e a pretexto duma apreensão mais viva e instantânea do subconsciente criador, levantou-se a proposta de uma oração sincopada, feita da ostensiva justaposição de segmentos. Disso se afasta sua prosa exatamente em virtude da unidade seqüente do texto, da fluência das imagens poéticas que o perpassam. Um estilo pessoal, reconhecÃvel em qualquer dos tratamentos narrativos dados aos diversos conteúdos temáticos, e, no entanto, de história para história, o Autor varia a prismática, embora seja caracterÃstica de sua maneira a concentração, em cada livro, de uma ordem particular de assunto. É que ele não esgota monocordiamente, mas numa escala de infinitas variações. Nesta obra, Morte na praça, as variações são em torno da Magra, como já tivemos versões multifárias do amor e mais alguns temas fundamentais e, de certo modo, eternos, dentro do relativo mutável.
O contista paranaense (e sobretudo nacional, porque sabe, principalmente no tocante à transfiguração do fantástico ou macabro, criar com um olho no local e outro no universal) pratica uma arte semelhante ao espectro, no duplo sentido de fenômeno de decomposição da luz, isto é, como coisa fÃsica, e como imagem figurada da morte, como reflexo anÃmico, fundindo a ambos. Detém-se em registrar, por metáforas e breves referências descritivas, os diversos graus de intensidade psicológica e a multiplicidade de ângulos que o núcleo de cada problemática sugere, para chegar, ao fim de todas as situações criadas, à instauração duma atmosfera simbólica e, ao mesmo tempo, sensorial, quase tátil, porque seu fantástico é muito pouco abstrato.
Mestre do trágico-grotesco, Dalton Trevisan o é também dos dramas amorosos e da morte, em sua dimensão cotidiana. Excetuem-se dois ou três contos e Morte na praça exprime o senso de humor e o imprevisto das soluções, com que o leitor se vê, no final de cada peça, flutuar numa sensação de vazio, de ilogismo, que só não leva ao estado do absurdo porque o desfecho foi sutilmente insinuado, ou derivou das contingências mais prosaicas. Nenhum traço de sentimentalismo, de apelo à emoção individual, de fuga pelo sortilégio ancestral ou cósmico, de vagas implicações metafÃsicas.
O contista dessacraliza a morte, incorpora-a ao nosso mundo diário, retira-lhe o nimbo mÃtico, ritualÃstico. Como em relação a outros temas, o insuperável estilista capta-a nas imagens fragmentárias da vida. Da morte desmistificada, ao nÃvel dos interesses e mesquinhez das humanas paixões, resulta o efeito entre trágico e ridÃculo que é um desafio impiedoso a todos nós. E nenhuma figura da escrita literária mostra-se mais adequada para isso do que a elipse, com a sua carga potencial de sugestão, a significar o máximo com um mÃnimo essencial de palavras. E, muitas vezes, só com as pausas, as reticências, os silêncios.