Livro - Um Século de Poesia - Antologia

Antologia repõe em circulação a poesia grave de Augusto Frederico Schmidt e inclui inéditos das décadas de 1940 e 1960.
A poesia de Augusto Frederico Schmidt vem sendo paulatinamente redescoberta nas últimas décadas, tal como previu Carlos Drummond de Andrade. Um século de poesia, antologia organizada por Letícia Mey e Euda Alvim, com texto estabelecido por Waldir Ribeiro do Val, percorre os mais importantes livros de poesia que Schmidt publicou em vida e inclui inéditos das décadas de 40 e 60. São 94 poemas pertencentes a 13 de seus livros mais representativos, além de sete trabalhos inéditos. A edição é ainda enriquecida com índices por obra, por título e por primeiro verso dos poemas.
Como poeta ou homem público, Schmidt encontrou ao longo de sua vida diversos opositores, com os quais travou debates significativos no panorama literário e político do país dos anos 30 aos 60. Cultor de uma poesia elevada, de formas fixas como o soneto num ambiente literário dominado pela idéia do verso livre, de temas genéricos e transcendentes, desde o início opôs-se ao movimento modernista e sua pauta estética de valores para a criação literária. Percorrendo um caminho todo pessoal, Schmidt, que estréia praticamente ao mesmo tempo que Drummond e Murilo Mendes, desde o início busca uma poesia não coloquial, distante do cotidiano pelo cotidiano, vazada num vocabulário clássico e de temática intimista, ao explorar uma subjetividade que, inclusive, não se furta à dimensão do sagrado. Não por acaso, um de seus livros intitula-se Estrela solitária, como que metaforizando o próprio lugar ocupado pelo poeta na constelação literária da época. Por outro lado, se sua obra dialoga contemporaneamente, por exemplo, com a poética inicial de um Vinícius de Moraes, através de temáticas metafísicas e religiosas, por outro, será uma das bases fecundantes da chamada Geração de 45, que retomará várias das orientações gerais de sua poética.
Nos 101 poemas aqui selecionados, o leitor encontrará uma poesia que, sem tratar do pitoresco ou do particular, almeja diretamente o universal, mediatizado por campos temáticos como a casa, a esposa, o pássaro, a natureza, a felicidade, o sentimento religioso, as estações do ano, as flores, a lua, o mar, as estrelas e a noite. Poesia delicada, sem grandes arroubos, para ser vivenciada na intimidade, como um encontro pessoal e intransferível.
A crítica:
A sua força poderosa de generalização dos grandes assuntos; a sua anti-tese langorosa e luxuriante, que é uma das características de seu verbalismo numeroso, suave, ondulante; prolixo, sensual em ritmo e som; e principalmente esse profundo, intenso, vibrantíssimo estado de poesia, esse viver em poesia, que é qualidade especial, o valor mais admirável dos seus livros. (Mário de Andrade)
O provável, então, é que sua poesia seja redescoberta e amada pelo que tem de sentimento romântico fundamente brasileiro, a que se junta certa nostalgia oriental. Pelo que sabe contar da lua, do mar, das flores, das namoradas e das crianças, temas tão familiares em sua obra e que resistem a qualquer espécie de automação da vida. (Carlos Drummond de Andrade) Na história da poesia brasileira, de 30 a 40, o papel de Schmidt, assumido com plena consciência, foi o de negar tudo o que marcava, a seu ver, certa gratuidade excessiva dos modernistas "heróicos": o coloquial indiscriminado, a piada pela piada, o gosto do pitoresco e do anedótico, o neo indianismo como bandeira, etc. (...) O poeta de Canto da Noite contrapunha às gaiatices de 22 o som grave do seu órgão catedralício, não receando cair na monotonia desde que fugisse à vulgaridade. (Alfredo Bosi)