A expressão 'auxílio luxuoso' é utilizada, a partir do verso da canção "Juventude transviada", de Luiz Melodia, para indicar a participação especial de músico ou intérprete na gravação ou na simples execução pública de uma canção. Neste livro, Auxílio luxuoso, a expressão ganha significado diverso: a mélange de instâncias de consagração que, entre os anos 20 e 30, forjou o surgimento e a cristalização de um campo de produção cultural e artística da música popular no Rio de Janeiro. Sob o prisma da indústria musical, o Autor reavalia a participação de uma geração de artistas (músicos e intérpretes), produtores de disco, locutores de rádio etc, a "geração Noel Rosa": a primeira que, no Brasil, teve que aprender a travar contato simultâneo com uma indústria cultural formada, naquela época, por dois dos mais modernos meios de reprodução, difusão e consumo de música popular: o disco e as estações comerciais de rádio. A obra dos artistas dessa geração pioneira é situada em consonância com as condições sociais de sua produção, reprodução, circulação e consumo. Assim descrito, o campo da música popular no Rio de Janeiro dos anos 20 e 30 constitui-se na fronteira que, delimitada no espa-ço urbano carioca, legou a história do samba como símbolo nacional. Cada passo posterior na história semi-oficial da MPB (Bossa Nova, Tropicália, Jovem Guarda, Axé, "breganejos", Manguebit, Funk, Rap etc) guarda semelhanças com a atuação fundadora da geração Noel Rosa. A estrutura do campo e os mecanismos de consagração dos passos posteriores são aqui encarados como espelhos da ?Época de Ouro?. Algo vem se repetindo, algo do tipo "é preciso mudar tudo para que tudo permaneça o mesmo" - até porque a globalização continua sendo de mão única, como sempre foi, desde sempre.