No quartinho de costura

No quartinho de costura

Estamos no Brasil dos anos setenta. Na casa de uma família mineira radicada em São Paulo vive a personagem central dessa história. Garota sensível, curiosa e amiga dos livros, ela passa seu tempo como toda menina da sua idade, entre escola, estudos, cinemas, matinês dançantes e namoradinhos. Em plena ditadura militar, ela habita um mundo em que ocorrem grandes mudanças comportamentais e políticas, com a pílula, a liberação dos costumes, as prisões e a tortura, a Igreja de esquerda e a luta armada. Esses temas chegam aos seus ouvidos ávidos por meio de fragmentos de conversas entre seus pais e alguma notícia dos jornais, em sua maioria censurados. Mas seu cotidiano sem grandes sobressaltos irá mudar radicalmente quando sua mãe a torna cúmplice para esconderem em casa um sobrinho subversivo procurado pelo DOPS. Padre dominicano, o rapaz ligado ao movimento guerrilheiro busca refúgio junto à tia, que o acolhe a contragosto. A partir daí nada mais será como antes. A adolescente, no limiar de seus 15 anos, estabelece com o hóspede indesejado uma relação íntima, pontuada por discussões viscerais sobre religião, justiça social e, sobretudo, literatura.
Essa paixão compartilhada transforma o estreito quartinho de costura, onde o padre passa seus dias e noites, longe de olhares intrusos, num universo que se expande para fora da mesmice do cotidiano previsível. O encantamento que emana das páginas dos livros faz desse recinto de fundo de quintal um espaço iluminado. Ali a menina cresce, tomando consciência da realidade que afeta o seu país, enquanto ele começa a questionar a sua opção pela batina.
O texto é urdido num fluxo contínuo, em que ideias e pensamentos emendam-se uns nos outros, e correm como as águas de um rio.

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