CD João Carlos Assis Brasil - Self Portrait

Irmãos gêmeos, Victor e João Carlos Assis Brasil cresceram com um profundo conhecimento recíproco, que encontrou na paixão pela música seu ponto de maior identificação. Victor foi saxofonista dos mais brilhantes, João é pianista com formação em música clássica de rara sensibilidade. A morte precoce de Victor em 1981 afastou os irmãos do convívio, mas a música foi o meio sublime que João encontrou para manter viva a memória do irmão.
Self Portrait, álbum lançado originalmente em 1990 e agora relançado pela Biscoito Fino, traz 13 músicas de autoria de Victor Assis Brasil interpretadas pelo piano de João Carlos acompanhado por Paulo Sérgio Santos no clarinete e saxofone, Zeca Assumpção no baixo e Jurim Moreira na bateria. As músicas saíram de um baú deixado pelo saxofonista que João ?herdou? da mãe, dona Elba. Todas as canções foram extraídas de apenas três cadernos, a maioria composta no verão carioca de 72/73.
?Levei muito tempo para abrir esse baú e revirá-lo. Sabia que iria encontrar um material enorme e diversificado, Victor tinha uma relação muito intensa com a composição, de uma rapidez rara?, explica João Carlos.
João se viu surpreso quando encontrou mais de 400 composições inéditas entre músicas que visitam os ritmos nacionais, o jazz vanguardista e a música clássica contemporânea, inspirada em Satie, Debussy e Ravel. A escolha do repertório seguiu um critério de qualidade musical, tarefa que só João Carlos teria o aval para realizar tamanha a cumplicidade que havia entre os dois músicos-irmãos. ?Tocar essas músicas é sempre uma grande emoção, não só pelo fato de as canções serem lindas, mas pela relação visceral que tinha com Victor e sua obra. É quase como se fossem minhas essas composições?, afirma.
O título Self-Portrait, auto-retrato em português, já sugere tratar-se de um álbum biográfico. Segundo João, a intenção era apresentar um panorama da obra de Victor, dando uma idéia das múltiplas influências que ajudaram a formar o artista. Victor ficou muito ligado à imagem do músico jazzista, mas este álbum permite lançar nova luz sobre sua produção. O CD oferece uma visão mais abrangente, dando uma mostra de como a música clássica contemporânea foi também fonte recorrente de inspiração e, sobretudo, como o artista buscou criar a partir de temas e ritmos brasileiros.
Assim, se a faixa título Self-Portrait, One for Bill, que homenageia o pianista Bill Evans, e Blues for Oliver, tributo ao jazzista norte-americano Oliver Nelson, têm clara inspiração no ritmo marcado pelo improviso e criatividade que nasceu nos Estados Unidos, Samba sem Nome é embebida de Brasil, enquanto Almendrix traz referências à música latina. As incursões pela música clássica, por sua vez, estão presentes Jazz Sonata for Piano, com toques jazzísticos, Fast/Slow/Fast e Moderato Valsa. Quem conferir este disco vai descobrir um compositor diverso e pouco conhecido, interpretado pelo sentimento de um irmão saudoso.