Um Riso na Catedral

A obra aborda, de início, o tema das crendices nas diversas camadas da sociedade, e faz isso de forma leve e jocosa, mas desde a primeira página o leitor é posto diante do drama íntimo de todos nós – livres pensadores, crentes, agnósticos ou ateus – a propósito do norte espiritual buscado (ou negado) pelos homens esclarecidos de todas as gerações que passaram pelo mundo. Nos capítulos finais, essa dimensão dramática é levada às últimas consequências, culminando com o confronto entre o intelectual ateu Ortiz Perdigão, o “Filósofo das formigas”, e a figura genial e demoníaca do bispo Sesáfio Osório, o “Boca de ferro”, fundador e primaz da Igreja do Senhor Onipotente. No embate entre o filósofo e o bispo se misturam as dimensões da realidade com as da ficção, ficando para o leitor, a cada passo, a tarefa de distinguir uma da outra, num julgamento individual sobre a veracidade ou falsidade das graves revelações que o bispo faz sobre si mesmo como um verdadeiro espírito maligno, sobre o reinado milenar da Grande Mentira na face da Terra e, acima de tudo, sobre o uso deliberado e maléfico feito pelas religiões de uma desnorteante miragem de Deus.

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