Todas as Mulheres de Jorge Amado

Todas as Mulheres de Jorge Amado

Por ocasião do desaparecimento de Jorge Amado surgiram as impressões, miríades delas, acerca de uma obra literária de natureza mágica e que não deixou nunca de ser grandiosa. Quando aparentam ser numerosas as chaves para uma única magia, por certo que surgem os paradoxos e as controvérsias acerca de sua forma de existir. Se houve durante um tempo, por parte das lições acadêmicas, um certo alheamento com relação ao escritor baiano Jorge Amado – em função da obrigatoriedade do resumo complexo de Guimarães Rosa, Clarice Lispector, Lya Luft, entre outros –, agora, após a morte do romancista, parece haver um giro de atenções que se inicia desempenhado pelo sistema mercadológico e por outro filão que querem chamar de exotismo, o que se ajuntado em uma só palangana acaba sendo a fruição de uma certa tendência para o compromisso com o imediato e com o lucro. Comparado com os três anteriores, há de se convir que as diferenças são megatéricas. Os compromissos com estilos marcam uma variedade espetacular de métodos. Coisas de uma distinção ímpar. Todavia, Jorge Amado construiu parte de uma história e de um enlevo outro, sem par. A primeira vez que me chamou a atenção uma apreciação sobre Jorge, declaradamente, foi um texto que li de autoria de Mario Vargas Llosa. Conhecia já toda a sua obra, sabia de sua difusão pelo cinema e televisão, um mercado tendencioso, falaz e facilitador de compreensão. Entretanto, habituado com o sistema de leitura arrojado e buscadouro de vanguardas, sempre me passava inadvertida a dobradiça que regula e sempre regulou todo o texto de um dos escritores mais imponentes de todos os tempos, desde que dele se dispense a exigência inerente à alucinação universal das artes contemporâneas. Desde que dele se dispense a substância nuclear que norteia a grande formação de um compromisso comum com o descompromisso. Para se dizer em outras palavras, Jorge Amado fez experimento consigo mesmo e com a Bahia.
E a busca de todos os rumos de uma Estética moderna costuma ir muito além desse situado que, por ser amoroso e sentimental, esbarra na própria licitação das idéias para dar causa a um mundo muito óbvio e declaradamente lírico. Algumas das passagens livrescas de Jorge Amado são muito líricas, mormente quando se dedica a desenhar mulheres de caráter exuberante, nítidas, cristalinas e com um cheiro gracioso e
espetacular de travesseiro ou de óleos usados na culinária maravilhosa da Bahia. Jorge Amado, cuja experiência anterior fê-lo mover-se em direção a outros mundos, como nos tempos em que esteve exilado do Brasil, acabou por se solidificar na Bahia e os eventos desse passado podem ter contribuído de uma maneira muito firma para seus propósitos de criação. Porque, a julgar-se dessa forma, quando nele explodiu a grandeza colorida dos trópicos, os parâmetros que poderia apor com outros mundos, outras vidas, outras terras, embora não apareçam na pintura de seus livros, poderiam de referenciar às comparações de uma maneira espetacular. Porque, em memória de um escritor com esse porte e tal bagagem, nada se perde, mesmo a leve explicação de uma palavra velada, comparativa e quase transparente.
Por isso, a propósito desse tipo de questão, disse Jean-Jacques Faust sobre a obra de Jorge Amado: Se o regionalismo é um fenômeno corrente na literatura brasileira contemporânea, Veríssimo e o país gaúcho, Guimarães Rosa e Minas Gerais, não há identificação mais gloriosa que esta da Bahia com Jorge Amado(1). Nesse texto, Jean Jacques Faust revela uma síntese de proveito sobre a obra de Jorge Amado, entretanto, sem lhe revelar sequer parte das entranhas, das vísceras. A obra de Jorge é enfileirada em almas femininas de todas as categorias, respira pela sua intimidade mais folgazã, às vezes mais responsável, maioria das vezes mais sensual e em todas as vezes reunindo um cabedal de mundo insubstituível que parte da lição que as mulheres dedicam aos seus homens e, de vez em quando, àqueles que som

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