Que razões teria Raduan Nassar para introduzir narradores epilépticos em suas principais obras? Além da doença, que outros traços ligam o personagem André, de Lavoura arcaica, e o chacareiro de Um copo de cólera? Será possível estabelecer entre eles e o autor um elo bioficcional? Essas são algumas das questões que povoam Entre o palco e o porão, um livro dedicado à difícil exploração da aporia, da ambivalência e do paradoxo que informam as relações de sexo e poder. O texto principia como uma fábula, seguindo sutilmente a trilha de formigas que inaugura a escrita de Nassar, indo espraiar-se depois, com toda força, por temas como a memória, a doença e a morte, categorias em momento algum tratadas ali de forma simples ou convencional. Em suma, um estudo que, por meio de uma linguagem clara e elegante, estabelece ângulos que ampliam a compreensão da ficção de Nassar e nos conduz a refletir sobre aspectos cruciais do nosso próprio estar-no-mundo.