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Livro - Telefonema

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Telefonema, de Oswald de Andrade, volume tão importante quanto pouco freqüentado dentro da produção desse que é um dos maiores nomes do modernismo brasileiro. Trata-se de suas crônicas (ou "correspondências") escritas de 1944 a 1954 para a seção "Telefonema", publicada no jornal carioca Correio da Manhã. Organizado por Vera Maria Chalmers, o livro reúne 183 textos (incluindo inéditos), num alentado volume de 800 páginas, que possui, além da importante introdução da organizadora ("Panorama de Telefonema") e seguindo o padrão da coleção, notas, o prefácio à segunda edição ("Poucas palavras"), índice onomástico (fundamental, em função da enorme quantidade de personagens referidos nos textos), bibliografia e cronologia (isto é, uma biografia sintética de Oswald).

O "Panorama de Telefonema" merece comentário à parte: nesta introdução, a organizadora sintetiza, de forma brilhante, abrangente e penetrante, todo o efervescente contexto político brasileiro e internacional da época. Internamente, tratando-se do fim do governo Vargas, descreve a crescente organização da sociedade civil, os movimentos e contra-movimentos, manifestos e manifestações, até a organização de eleições em 1945, a legalização do PCB, a convocação da Constituinte. Externamente, o fim da Segunda Guerra, a divulgação do Holocausto, o impacto de Hiroshima, a emergência dos EUA e da URSS como as maiores potências mundiais, o embate ideológico entre os campos capitalista e comunista, o início da Guerra Fria. E as discussões sobre os rumos da cultura brasileira, depois do refluxo dos primeiros ímpetos vanguardistas das primeiras décadas do século (que só seriam retomados depois da morte de Oswald em 1954, com o surgimento, no fim dos anos 1950, do concretismo) - para não falar da discussão das preferências ideológicas, intelectuais e literárias de Oswald.

Surpreende, pelo texto desabrido e temerário do autor, que a série comece a ser publicada em 1944 (1º de fevereiro), ou seja, ainda antes do fim da ditadura Vargas. Não por acaso, será interrompida pela censura já em 23 de junho (para ser retomada depois).

O estilo dos textos reunidos, como tudo em Oswald de Andrade, é particularíssimo. Além disso, e mesmo conhecendo-se sua famosa verve, surpreende hoje pela coragem de explicitar posições, visões e opiniões sem qualquer eufemismo ou "bom-tom" - o exato oposto do que se pratica atualmente em nossa crítica cultural. Não que Oswald seja deseducado. Mas não poupa jamais nada e ninguém que acredite não deva ser poupado (o último exemplo de crítica "oswaldiana" entre nós foi o de outro grande crítico cultural - talvez não por acaso -, Mário Faustino, no final dos anos 1950).

Já o conteúdo das crônicas percorre toda a referida vida política, literária e cultural da época - bem como seus principais personagens -, determinantes para os acontecimentos subseqüentes, ou seja, a segunda metade do século XX.

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