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Livro - Duas Praças
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O livro é constituÃdo por 90 capÃtulos breves, à exceção do capÃtulo 50, um longo fluxo de pensamento de uma personagem. Inicialmente, duas narrativas são apresentadas, o que o leitor só perceberá no capÃtulo 11. Os dez primeiros capÃtulos iniciam a narrativa sobre Maria. Os dez seguintes, sobre Marita. E assim sucessivamente, até os capÃtulos 71 a 80, que concluem a história de Marita, e os capÃtulos 81 a 90, que encerram a de Maria. Mas não apenas, pois o autor guarda seus trunfos na manga. Antes, vamos esmiuçar as estórias principais, de Maria e Marita, duas trajetórias talvez paralelas, talvez perpendiculares, certamente partes de um mesmo mapa.
A vida de Maria, uma mulher comum, é contada até a sua mesquinha morte. A narrativa explora as possibilidades alienantes envolvidas nas ações, pensamentos e desejos cotidianos de uma mulher de classe média baixa. A teia de seus recalques e preconceitos enredando-se com sua biografia, apresentada aos saltos, é bem constituÃda a partir de um estratagema em crescendo: elipse do senso comum. A obviedade de um destino como o de Maria é de tal ordem que o próprio discurso pode enunciar-se aos cacos, pois o leitor completará com o esperado aquilo que estiver faltando nas sentenças e na biografia, o que resulta num jogo cômico de antecipações e prospecções. Maria é também apresentada em seu fluxo de pensamentos e atos e pode ser mais desconexa, e a narrativa explora outras regiões. A fenda entre futuro almejado e resultado obtido materializa-se também no próprio texto através da ordenação caótica final do destino da protagonista.
A investigação do desaparecimento de Marita, argentina estudante no Brasil, é a segunda estória que ainda continua insolucionada. Um estudante da pós-graduação tenta de todos os modos encontrar Marita, talvez filha de pais argentinos mortos pela ditadura de lá. E registra por escrito não só os kafkianos passos burocráticos que deu para tentar resolver o enigma, como seus encontros com professores, funcionários e dirigentes universitários, oferecendo ao leitor uma imagem de parte do mundo acadêmico, com tudo o que pode comportar de frivolidade intelectual, inveja pessoal, luta pelo prestÃgio e ganância pelo poder.
Formas de discurso bem diferentes, relativas a ambientes socioculturais distintos, que confluem, contudo, para um ponto de fuga: o da ironia com que são considerados os destinos e a fatuidade que os orienta. Maria e Marita podem ter se cruzado numa rua de São Paulo. Marita, no limite, pode ser Maria, e as narrativas se articulariam descompassadas temporalmente. Porque não são duas praças, mas inúmeras, o que a demolição das narrativas de ambas no texto e pelo texto atesta com clareza. Tanto a estória de Maria quanto a de Marita, ao se dissolverem, dão passagem a estórias paralelas ou perpendiculares, momentaneamente em contato com a estória deles, e que começam a se desenvolver, vindo de um caminho e indo para outra direção. Esse seria um segundo estratagema, que permite a dispensa dos dois narradores porque o destino troca de voz ou de mão, já que todas as estórias e histórias estão aparentemente congeladas numa imagem grotesca. E são tão indistintas todas as estórias que elas podem ser simplesmente numeradas em seqüência, da capÃtulo 1 ao 90.
Tais procedimentos podem lembrar, ainda, estratégias narrativas como as de um Buñuel ou de certo Woody Allen, se pensarmos no universo do cinema, ainda que os resultados pretendidos sejam bem diversos em cada caso considerado. Mas é a própria organização em pequenos capÃtulos que, se remete por uma lado à estrutura do romance folhetinesco do século XIX, por outro lembra a sucessão de takes ou planos fÃlmicos, o que possibilita alta velocidade temporal, espacial e de foco ao texto, e que Ricardo LÃsias sabe bem explorar.
A vida de Maria, uma mulher comum, é contada até a sua mesquinha morte. A narrativa explora as possibilidades alienantes envolvidas nas ações, pensamentos e desejos cotidianos de uma mulher de classe média baixa. A teia de seus recalques e preconceitos enredando-se com sua biografia, apresentada aos saltos, é bem constituÃda a partir de um estratagema em crescendo: elipse do senso comum. A obviedade de um destino como o de Maria é de tal ordem que o próprio discurso pode enunciar-se aos cacos, pois o leitor completará com o esperado aquilo que estiver faltando nas sentenças e na biografia, o que resulta num jogo cômico de antecipações e prospecções. Maria é também apresentada em seu fluxo de pensamentos e atos e pode ser mais desconexa, e a narrativa explora outras regiões. A fenda entre futuro almejado e resultado obtido materializa-se também no próprio texto através da ordenação caótica final do destino da protagonista.
A investigação do desaparecimento de Marita, argentina estudante no Brasil, é a segunda estória que ainda continua insolucionada. Um estudante da pós-graduação tenta de todos os modos encontrar Marita, talvez filha de pais argentinos mortos pela ditadura de lá. E registra por escrito não só os kafkianos passos burocráticos que deu para tentar resolver o enigma, como seus encontros com professores, funcionários e dirigentes universitários, oferecendo ao leitor uma imagem de parte do mundo acadêmico, com tudo o que pode comportar de frivolidade intelectual, inveja pessoal, luta pelo prestÃgio e ganância pelo poder.
Formas de discurso bem diferentes, relativas a ambientes socioculturais distintos, que confluem, contudo, para um ponto de fuga: o da ironia com que são considerados os destinos e a fatuidade que os orienta. Maria e Marita podem ter se cruzado numa rua de São Paulo. Marita, no limite, pode ser Maria, e as narrativas se articulariam descompassadas temporalmente. Porque não são duas praças, mas inúmeras, o que a demolição das narrativas de ambas no texto e pelo texto atesta com clareza. Tanto a estória de Maria quanto a de Marita, ao se dissolverem, dão passagem a estórias paralelas ou perpendiculares, momentaneamente em contato com a estória deles, e que começam a se desenvolver, vindo de um caminho e indo para outra direção. Esse seria um segundo estratagema, que permite a dispensa dos dois narradores porque o destino troca de voz ou de mão, já que todas as estórias e histórias estão aparentemente congeladas numa imagem grotesca. E são tão indistintas todas as estórias que elas podem ser simplesmente numeradas em seqüência, da capÃtulo 1 ao 90.
Tais procedimentos podem lembrar, ainda, estratégias narrativas como as de um Buñuel ou de certo Woody Allen, se pensarmos no universo do cinema, ainda que os resultados pretendidos sejam bem diversos em cada caso considerado. Mas é a própria organização em pequenos capÃtulos que, se remete por uma lado à estrutura do romance folhetinesco do século XIX, por outro lembra a sucessão de takes ou planos fÃlmicos, o que possibilita alta velocidade temporal, espacial e de foco ao texto, e que Ricardo LÃsias sabe bem explorar.