Livro - A possibilidade de uma ilha

Com monólogos cáusticos nos quais se mesclam provocações e uma visão fria e cruel da existência, o livro 'A possibilidade de uma ilha' traz a história de Daniel, protagonista que narra os últimos anos de sua vida. Daniel, popular humorista francês, acumulou dezenas de milhões de euros com esquetes contra a sociedade de consumo e o fundamentalismo religioso ('Chupe minha Faixa de Gaza, meu colono judeu gorducho'). Quarentão, corrói-se em observações sobre o papel do artista na atualidade; não é com certo incômodo que conclui - 'construí minha carreira e fortuna em cima da exploração comercial dos maus instintos...'. O humorista é vítima da própria condição humana, que a tudo deteriora; seu corpo sofre os efeitos do envelhecimento, o casamento com Isabelle - mulher de pouco apetite sexual - exaure-se. A felicidade, a seu ver, resume-se a Fox, da raça welsh corgi pembroke, o 'cão titular da família real'. Uma nova tentativa amorosa com a atriz espanhola Esther revela-se desastrosa. A jovem pertence, tal qual personagens dos filmes de Larry Clark, a um grupo de kids que se recusa a crescer, paralisada em uma bolha asséptica. Daniel, de início incrédulo, passa então a freqüentar a seita dos elohimitas. Os seguidores acreditam piamente no ser humano como fruto da visita dos extraterrestres Elohim. A clonagem, defende o 'profeta' religioso, é a passagem para a vida eterna, o último estágio entre suicídios em massa e a permissividade sexual dos integrantes. Daniel - ou Daniel1, segundo a ritualística elohimita - passa a dialogar com Daniel24 e Daniel25, clones separados por dois milênios. Isolados em bunkers, Daniel24 e Daniel25 tentam se proteger dos 'humanos', os poucos sobreviventes das hecatombes nucleares. Os monólogos febris registram suas impressões sobre a vida de Daniel1 - e, por extensão, da sociedade contemporânea.