Livros - Nós Que Nos Amamos Tanto

Em Nós Que Nos Amamos Tanto, a autora resgata a história que foi tradicionalmente negada e suprimida durante a ditadura militar chilena, concedendo a essas mulheres a possibilidade de desconstruí-la e recontá-la.
Cada uma delas é única: Isabel, que diante da mãe alcoólatra teve que assumir as responsabilidades da casa e da criação de seus irmãos, agora tem cinco filhos e é a dona-de-casa perfeita, a profissional irrepreensível, sufocada pela correria de uma vida em que os próprios anseios se perderam entre os horários escolares dos filhos e os compromissos sociais do marido; Maria, uma ex-militante bela, rica e de espírito inquieto; Sara, contrariando as tias que não queriam que ela estudasse, tornou-se uma dedicada advogada e viveu os altos e baixos de um único amor que lhe deixou severas marcas; e Ana, professora separada, com filhos e netos, é quem nos conta a história. Além destas fortes e inesquecíveis mulheres, o leitor percorre e conhece, por meio das palavras de Serrano, suas amigas, mães, vidas, seus amores e homens que tão pouco entendem da alma feminina.
No encontro que celebra a amizade de dez anos, encontramos um retrato das mulheres e das lutas da América Latina. Pelo olhar de cada uma das personagens, a autora apresenta seu ponto de vista, opina e polemiza diante da condição masculina, da repressão política e da corrupção. Acima de tudo, pairam sob a história, como uma esperança e uma dor, a experiência socialista de Salvador Allende e a ditadura de Pinochet. Quatro mulheres militantes de esquerda que ambicionam um mundo melhor, que viveram na pele o exílio, os longos meses longe do Chile e a aridez da repressão política; e nesse mundo amaram, pariram seus filhos e construíram suas carreiras, equilibrando-se sempre na tênue linha que separa a felicidade da tristeza, o medo da coragem, a dor da insensibilidade.
Nós Que Nos Amamos Tanto é um livro sobre mulheres escrito sob o peso de um passado político tumultuoso; entretanto, mais do que isso, é também um livro sobre a vida e as certezas que ela nos deixa. Marcela Serrano constrói um texto leve e fluido, mas não perdoa e não esconde os problemas que habitam sob a pele da mulher deste nosso tempo.