Poucas situações despertam, entre a população dos grandes centros urbanos brasileiros, sentimentos mais ambivalentes do que a aproximação de meninos de rua: ou as pessoas sentem compaixão, o que as leva a abrir a carteira em busca de algum trocado para dar, ou é o medo que se instala, fazendo com que elas fechem o vidro do carro, coloquem a bolsa junto ao corpo ou tomem até uma atitude agressiva. Esses comportamentos não são recentes.

Lígia Costa Leite, que se dedica ao estudo do assunto há anos, demonstra que desde os primeiros tempos da colonização a "infância desvalida" se faz presente em nossa história. A diferença é que nos últimos anos, sobretudo a partir da aprovação do Estatuto da Criança e do Adolescente, esse problema deixou de ser omitido, uma vez que o modelo das grandes instituições destinadas à "reeducação" de menores, verdadeiros depósitos de crianças e jovens, que só reforçam sua condição de excluídos, já não é juridicamente aceito.

O poder público e a própria sociedade se vêem obrigados a criar novas formas, mais justas, humanas e eficientes, de inserir na sociedade as crianças cujos pais não têm como zelar pelo seu desenvolvimento. Mas isso não tem ocorrido sem traumas, sobretudo porque predominam iniciativas que, mesmo meritórias, não levam em conta os interesses, as expectativas, os projetos desses meninos.

Coerente com sua postura, a autora dá voz aos meninos e meninas de rua, mostrando como eles próprios vêem sua realidade e que caminhos apontam para que possam, de fato, se tornar cidadão.