Para quem conhece John Updike sobretudo como romancista e memorialista, Bem perto da costa é uma boa revelação: aqui se revela um soberbo ensaísta e resenhista de livros. Reunindo ensaios e críticas literárias de seu livro Hugging the shore, a seleção apresentada em Bem perto da costa é formada sobretudo por resenhas publicadas na conceituadíssima revista New Yorker. Muito especiais são alguns ensaios de grande fôlego que tratam de Hawthorne, Melville e Whitman, três pilares da literatura americana, e que foram originalmente conferências proferidas para públicos diversos. Quanto às resenhas, enfocam Vladimir Nabokov, Edmund Wilson, Lévi-Strauss, a autobiografia de Doris Day, uma biografia de Céline e uma antologia de Borges. Um dos mais respeitados escritores americanos da atualidade, Updike ironiza sua obra como "o fruto de oito anos de leituras intencionais e dirigidas, em grande parte empreendidas para me garantirem o prazer e os benefícios de aparecer na New Yorker...". (Um deles seria a remuneração de cada texto, equivalente à pensão de sua ex-mulher.) Mas, quando lemos seu belíssimo ensaio sobre a última fase de Melville ou seu depoimento sobre a questão dos subsídios governamentais a escritores, encontramos uma inteligência agudíssima e de fantástica sensibilidade. Mesmo que o resenhista Updike se defina como "um clone irônico", "à margem", "de fora", sem dúvida essa sua ácida auto-análise é um dos melhores convites à leitura de Bem perto da costa.