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Livro - Em 68

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Segundo Carlos Fuentes, 1968 foi "um desses anos-constelação nos quais, sem razão imediatamente explicável, coincidem fatos, movimentos e personalidades inesperadas e separadas no espaço". Como em 2008 completam-se 40 anos dessa data emblemática e histórica, muito se falará ainda do assunto. Porém, poucos relatos terão a mesma força de Em 68, livro em que Fuentes compila três textos seus sobre a época, escritos no calor dos acontecimentos ou pouco depois. O autor joga luz sobre seus testemunhos do Maio de 68 parisiense, da Primavera de Praga e do massacre da Plaza de las Tres Culturas, no México. E o mais impressionante é que os textos soam atuais, embora sejam republicados sem alterações. O valor dos textos de Fuentes sobre 1968 não se deve somente ao fato de ele ser um dos maiores escritores que a América Latina já produziu. Mais do que isso, ele foi testemunha ocular dos conflitos que tomaram Paris em maio daquele ano. Ele viu a juventude insatisfeita com os rumos do capitalismo ser espancada e humilhada em praça pública. Ouviu histórias de rapazes dominados a golpes de cassetete nos testículos, especialmente brutalizados apenas pelo fato de usarem cabelos compridos. Ele viu as moças cujos protestos foram calados ao serem despidas nas ruas, sob gritos ofensivos, e depois apalpadas pelos agentes repressores. Fuentes também presenciou discursos informais de Jean Paul Sartre, sobre como a Europa havia esquecido a promessa humanista de luta contra o fascismo. E participou dos debates que dominavam os cafés parisienses, com dezenas de jovens a insuflar a revolução. Alguns meses depois, em visita a Praga, ao lado de Julio Cortázar e Gabriel García Márquez, Fuentes viu a cidade subjugada pelo totalitarismo stalinista. Os líderes políticos e intelectuais do movimento que lutara pela humanização e democratização do regime estavam presos, exilados ou mortos. Do colega tcheco Milan Kundera, Fuentes ouviu cada detalhe do que acontecera naquela histórica primavera, recém-terminada. Em um tempo em que se via absurdos como tropas russas invadirem um cinema onde se exibia um faroeste americano para atirar contra Gary Cooper na tela, os quatro escritores conversavam nas saunas, um dos poucos lugares onde as paredes ainda não tinham ouvidos. Como cidadão mexicano, Fuentes tem muito a dizer sobre os acontecimentos de outubro de 1968 na cidade de Tlatelolco, onde o movimento estudantil foi dispersado e esmagado, com os cadáveres dos jovens espalhados pela Plaza de las Tres Culturas. Proibidos pelo governo de serem sepultados de forma decente, os corpos foram amontoados às dezenas em uma vala comum. Foi o castigo para quem questionou as práticas repressivas, antidemocráticas e antipopulares do regime, que nem ao menos eram compensadas por um efetivo desenvolvimento social, cultural e econômico do país.

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