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Livro - O silencieiro
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Neste romance, o silencieiro, personagem sem nome, narra o drama desesperado em que se envolve por não suportar o ruÃdo do mundo. Tem 25 anos quando começa sua história, vive com a mãe numa casa de subúrbio, com poucos amigos, poucas mulheres, um tio e um trabalho enfadonho. Planeja livros que não chega a escrever, deseja Leila mas casa-se com Nina e se muda para outro lugar, tem um filho e pouca coisa mais. A essa pobreza do cotidiano, acopla-se uma escritura despojada de qualquer efeito literário, por certo capaz de amplificar o sentido daquela pobreza exatamente pelo que dispensa, subentende ou disfarça. Essa aparente escritura objetiva, neutra, no entanto, é trabalho de ourivesaria, pois se dissemina em todo o texto um uso particular da linguagem, o que se pode ver em qualquer passagem do livro, a exigir do leitor uma abertura para novas relações metafóricas e uma educação severa para o cultivo das elipses. Por outro lado, o leitor vai envolvendo-se num roteiro tenso, no qual só na aparência nada acontece, levando-o a prosseguir com uma curiosidade crescente por pequenas circunstâncias tão Ãmpares, desencadeadas pela impossibilidade de o narrador suportar os ruÃdos que o cercam, desde a primeira frase do romance. E como todo o livro é narrado num tempo sempre presente, o leitor é chamado a se situar bem próximo, colado às circunstâncias, sem poder se distanciar delas. O complexo e multifacetado universo dos ruÃdos que nos cercam vai sendo ricamente identificado. E o narrador se propõe ações diversas para tentar deter esses ruÃdos, enredado em delÃrios persecutórios ou desejos de vingança, passando de enfrentamentos verbais com a vizinhança a matérias jornalÃsticas contra o barulho, de pequenas interdições a sua esposa a várias ações judiciais geralmente com resultado nulo. Sua tentativa de suicÃdio, ou de ao menos tornar-se surdo, é apenas o prenúncio de situações bem mais graves, que o levarão ao encarceramento. No entanto, o romance transcende em muito as perspectivas realistas ou psicológicas que pode iluminar, pois transforma o problema talvez trivial que apresenta em fonte para reflexão do paradoxo da comunicação humana. A intransitividade do silencieiro num mundo cada vez mais barulhento, exposta de forma crua e num ambiente pobre, estabelece limites claros às possibilidades de relações entre nós.