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Livro - Caligrafia da Solidão
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A lusitana Maria João Cantinho tem a coragem de assumir o fato de que ?a linguagem de poesia não tem limites?. E é esse o princÃpio de toda a sua criação. Não aceita barreiras à linguagem, ou melhor, a linguagem não lhe aceita barreiras. Ou inventa suas razões na capacidade direta de sonhar. O clima é onÃrico. E a imobilidade que ocupa este universo é a da palavra que luta contra a habitual inércia, quando o ato de narrar é procedimento de alma, chocando a linguagem andante e a outra, num levantar de aves em arribação. As imagens voam. A imanência e o ser, o medo e o brumor, a inocência e a levidade, a convalescença dos sonhos e os sonhos que se corporificam e integram os viventes, ou a natureza em torno. E Maria João Cantinho, pela limpidez e despojamento, tem algo dos videntes, dos ébrios de eternidade. Os contos se ativam de várias vozes, todas com significação, reflexos do inumerável espelho. Mesmo que a vida se apresente, como vislumbrou Shakespeare, o movimento de "som e fúria ditos por um louco". Entretanto, a loucura, aqui contida, indispensável, parte do cosmos, delÃrio sadio contra o raciocÃnio contemporâneo por demais enfermo, que carece de infância e liberdade. E Maria João ama a linguagem e é por ela amada -- o que se torna básico, sem o que não há inventação. Ao deliberar a fábula, desinventa a regra moral. E prova, como grande contista, que não é em vão que somos palavra. E errantes, porque temos destino. Andar é a suprema vidência.