Doutor, aristocrata ou assassino? No segundo livro em que conta a trajetória do (anti) herói Montmorency, a autora Eleanor Updale traz novas perguntas para o leitor. Se na primeira parte da história, lançada pela Rocco Jovens Leitores em 2006, a pergunta era "Ladrão, mentiroso ou cavalheiro?", agora a questão é ainda mais complexa. Em Montmorency a pique ? Doutor, aristocrata ou assassino?, encontramos o protagonista da inventiva trama criada pela escritora inglesa cinco anos após desistir de sua vida criminosa. No entanto, seu alter-ego Escapa insiste em puxá-lo para o obscuro mundo do crime.

Desde que formulou seu brilhante plano de fuga da prisão pelos subterrâneos de uma Londres vitoriana, Montmorency-Escapa circula pelos clubes e óperas com a mesma desenvoltura com que se arrisca pelo submundo. Essa vida dupla, no entanto, exige precauções e traz desafios cada vez mais complexos para a sua inteligência e perspicácia. No novo livro, Montmorency encontra-se com a saúde bastante debilitada. Enquanto descansa numa ilha na Escócia, no entanto, ele acaba se envolvendo num intrigante mistério, com a descoberta de uma fileira de pequeninos túmulos que guardam os corpos de vários bebês. Enquanto isso, inexplicáveis explosões de bombas na capital inglesa põem as autoridades em desespero.

Lorde George Raposo-Selwyn, agente secreto do governo e amigo de Montmorency, e o Dr. Robert Farcett, o jovem e ambicioso médico que reconstituiu seu corpo na prisão no início do primeiro volume, ganham papel importante na trama, que se passa entre Londres e grandes propriedades de terras escocesas. Dividido em 50 capítulos curtos, que trazem na abertura belas ilustrações de época em preto e branco assinadas pelo artista gráfico carioca Alvim, o romance acompanha as aventuras de Montmorency entre a vontade de desvendar o mistério dos bebês mortos e das explosões agindo dentro da lei, e a tentação de retomar antigos hábitos ilícitos.

A narrativa combina intriga, suspense e boas doses de humor britânico, ao mesmo tempo que transporta o leitor para o século XIX através de uma rica reconstituição de época. Sem mocinhos e bandidos claramente identificáveis, Eleanor Updale constrói um herói às avessas e foge do maniqueísmo reinante nas histórias infanto-juvenis, o que dá ao leitor o legítimo direito de no fim ainda se perguntar: "afinal, doutor, aristocrata ou assassino?". E descobrir que a resposta pode não ser tão simples assim.