Livro - Homem Doente do Homem e a Transfiguração da Dor, O

Tomando sobre si a finitude, apropriando-se de finitude, isto é, fazendo do finito o seu próprio e assim autoapropriando-se, o homem toma sobre si o anseio, o anelo que ele é. Anseio, anelo, aqui, é tão só outro nome para dizer desejo. E desejo é o modo como se concretiza o pouco, o apoucado ou a indigência própria de vida, de existência, que é ser por ou a fazer. Assim sendo, o caminho ou a viagem do homem doente do homem não é percurso para suprimir a dor, não é percurso que culmina com o apagar, com o excluir ou extinguir desejo, mas para afirmá-lo na sua dimensão finita, isto é, afirmá-lo no âmbito estrito de seu limite, de sua possibilidade ou de seu poder-ser. O que quer dizer isso? A dimensão finita do anseio é marcada, sim, por contenção e serenidade, pois nessa instância querer e poder se ajustam, isto é, vida, existência faz-se como o querer que quer o que pode - e só o que pode. O que pode - isso quer! O que pode - isso precisa querer, precisa fazer vir a ser para, assim, conquistar (liberar) a identidade ou o próprio que é.