Sempre que questionado sobre esse assunto, fico elocubrando várias coisas em torno do tema. Coisas que variam de “que pessoal mais chato” até “de certa forma, concordo contigo”. Quando um blog escreve um texto e avisa que ele está ali porque foi pago, desperta sempre a ira de alguns e o apoio de outros.
Eu já levantei a bola sobre a “bolha AdSense” – que alguns entenderam (equivocadamente) como uma afirmação de que o programa de afiliados iria acabar – e sobre outras questões acerca da rentabilização dos blogs. Ultimamente tenho me envolvido em alguns caminhos, tentando abrir portas para blogs em empresas e vice-versa e isso me tem feito pensar nas possibilidades existente. Uma delas – e talvez a mais óbvia e honesta – é a questão dos artigos / resenhas patrocinadas.
Acontece muito, desde que a opinião das pessoas passou a contar na produção industrial. Uma empresa contata uma pessoa – ou um grupo delas – para que avalie o seu produto / serviço e o diga se gosta, quais são os defeitos, quais as vantagens, facilidades de uso, etc. Essa pessoa poderia ser um profissional consultor da área ou simplesmente um possível consumidor do produto. Isso não vinha í público e era feito antes do lançamento do produto. Desde que surgiu a imprensa e a publicidade, existem resenhas pagas em revistas, jornais e TV, feitas por um jornalista ou simplesmente replicadas por ele. Algumas vezes existem laboratórios, testes do produto e o jornalista escreve os resultados com pontos positivos e negativos, mas na maioria das vezes é apenas “jabá”. Paga-se para falar do seu produto – e bem.
Como os blogs não estão subordinados a nenhuma linha editorial, nenhuma instituição e são em sua maioria feitos por apenas uma pessoa – seja em seu tempo livre ou levado í sério como um negócio, o compromisso de ter que falar bem vem abaixo. Blogueiros normalmente são geeks e adoram testar coisas novas. O fariam de graça a depender do produto ou da “exclusividade” do teste (egos, sim, claro). Imagina então se alguém lhe paga para testar um serviço qualquer, dizer o que acha daquilo sem compromisso de elogiar e ainda render um material para publicar no blog? Fechou!
O que muitos levantam é uma questão relevante sobre o assunto no que diz respeito í credibilidade dessa opinião, uma vez que ela foi paga. Oras, o teste da marca foi pago, emitir sua opinião foi pago, mas não o teor da mesma. Se é pra fazer jabá, que se crie um banner ou uma campanha, faça-se uma promoção no site. Se os nossos leitores visitam esse espaço em busca de opinião, vendê-la seria um tiro no pé – ou na cabeça mesmo.
E dá pra falar mal de quem te paga? Depende. Se você tem um blog e aceita uma resenha paga só para falar mal da marca, eu consideraria uma reflexão. No meu caso – vou salientar, estou falando de mim – se já conheço um produto e não gosto, não toparia fazer a resenha, não aceitaria a grana e pronto. Se eu não conheço o produto e, após os devidos testes, não encontrar nenhum ponto positivo nele, não publico o material. Aceito o pagamento pelos testes, envio o meu texto para o cliente como produto de minha consultoria e questiono se mesmo assim ele quer que eu publique no blog. Obviamente é minha opinião e eu não mudo uma palavra do que estiver escrito, mas se ele é do tipo “falem mal, mas falem de mim”, tudo bem.
Mesmo em um texto em que você não discorde totalmente, há sempre pontos negativos em qualquer produto, afinal, não existe produto, marca ou empresa perfeita. Mas existem diversas formas de dizer que algo não presta (no seu ponto de vista):
- “Infelizmente a porcaria do [BP:Smartphone]Treo 680[/BP] não tem wi-fi. Que m* de smartphone é esse?”
- “Como era de se esperar da Palm, o Treo 680 não tem wi-fi. Que pena, não seria minha opção de smartphone.”
- “Nada é perfeito. O Treo 680 não tem wi-fi, mas quem precisa disso?”
- “E para completar o típico produto Palm, o Treo 680 não tem wi-fi. Ótimo! Eu não queria mesmo…”
Alguns mais que outros vão refletir a sua opinião – ou a de quem você está lendo. E tem mais: não tente ser imparcial. Seu papel é emitir sua opinião, portanto, parcialidade já está incluída no pacote. Se você gostar, diga que gostou. Se não gostar, diga.
Ah! E, por favor, nunca deixe de avisar ao seu leitor, de forma bem clara, que aquele é um artigo patrocinado, resenha paga, seja lá o nome que quiser dar – de preferência no título ou no primeiro parágrafo. Ele merece ter o direito de optar por não ler, se assim o quiser.
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Esse texto foi concebido para o Nossa Opinião, um projeto de blogagem coletiva e descentralizada. Leia as outras opiniões sobre esse assunto.