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InterCon 2007 – A (des)construção de um modelo

Durante os dias 26 e 27 de outubro em São Paulo, eu vi e participei de uma revolução comportamental e organizacional maravilhosa. Tudo o que não se esperava em um simpósio de tecnologia aconteceu, e ao contrário do que você está pensando agora, foi muito bom.

O InterCon 2007, evento organizado pela equipe do iMasters, já começou com coisas interessantes e diferentes de outros eventos que seguem a mesma linha. Havia cobertura feita por blogueiros em tempo real direto do palco, compromisso ecológico desde o material utilizado, camiseta do evento criada de forma colaborativa, uma desconferência paralela que atraiu mais gente que a palestra “oficial”, enfim, um conjunto de coisas que já ocorreram em outros eventos, menos tradicionais e formais que o InterCon.

Mas nenhuma das revoluções programadas pode ser comparada ao que houve nos dias do evento, de forma espontânea, natural. O que eu vi foi uma verdadeira expressão reflexo do comportamento blogueiro, uma rede social real, online e offline.

O Twitter foi a vedete

Quando surgiu lá nos EUA, o serviço surgiu como proposta de microblogging com a singela pergunta: o que você está fazendo? As pessoas que o acompanhariam, ficariam sabendo em tempo real de suas atividades. A preocupação inicial foi, obviamente, se esse tipo de conteúdo era relevante ao ponto de se criar uma ferramenta desse porte. Os brasileiros, como sempre, desvirtuaram a proposta do Twitter. E dessa vez foi muito positivo isso ter acontecido.

Ao invés de “o que você está fazendo”, nós brasileiros inserimos textos sobre o que estamos pensando, lendo, ouvindo e principalmente nos comunicamos com nossa rede, respondendo, perguntando, indicando referências, citando, conversando. O Twitter deixou de ser uma ferramenta de conteúdo para se tornar uma ferramenta de interação.

Durante o evento foi, inegavelmente, o serviço mais utilizado pelos presentes – palestrantes, convidados e inscritos. Da plataforma fizemos cobertura online das palestras, apresentamos nossas visões sobre o que estava rolando, pegamos no pé dos palestrantes quando não concordávamos com algo – e em algumas vezes essas perguntas e citações foram parar no palco para o palestrante responder – , entre nós, trocávamos mensagens.

Foi pelo Twitter que o Luli ficou sabendo que estávamos muitos no lounge do Camiseteria, sentados nos puffs e no chão, ao invés de acompanharmos uma palestra que parecia chatí­ssima, em que os palestrantes estavam com braços cruzados e cara de sono. As imagens chegaram no lounge, mas não o som. Sem problemas, fizemos dublagem simultânea – e foi muito engraçada. Foi pelo Twitter que nós marcamos os almoços e os chopps de final de evento. Foi pelo Twitter que pessoas acompanharam o que estava acontecendo em São Paulo, do Rio, de Salvador, Curitiba, EUA. Foi no Twitter que as pessoas perguntaram o que o Carbono 14 tinha a ver com ecologia…

Desobediência civil pací­fica ou ação de guerrilha?

Na palestra sonolenta, estávamos muitos no lounge do Camiseteria, sentados em puffs e no chão, conversando, acessando o Twitter, vendo fotos (já que não dava para inserir fotos, pois a banda estava limitada para upload) no Flickr, socializando. Optamos por isso. E ficamos onde bem entendemos. O stand do Camiseteria certamente foi o mais visitado, o que mais chamou atenção das pessoas que passavam e se perguntavam o que estava havendo ali. De forma espontânea e completamente natural, estávamos ali, fazendo uma bela ação de emboscada para o Fabão.

Inter-ações

O InterCon foi quase um grande blog. Pudemos interagir entre nós, com os organizadores, palestrantes, promotores, etc. E as interações não cessaram no evento, pois após o mesmo, fomos para bares, continuar interagindo. Durante os almoços, continuávamos interagindo. De nossas casas, pelo Twitter, continuávamos as interações. Com comentários em Flickr e blogs, as interações continuam e continuarão.

Uma das palestras programadas era a gravação de um BrainCast ao vivo, com o Merigo, Fábio Seixas, Cris Dias e Mauro Amaral. Desde a abertura da palestra – eles vieram ao palco saindo da platéia, conversando conosco, fazendo humor com o Tropa de Elite – soubemos que não seria chato. Foi melhor, pois além de não ser chato, foi totalmente colaborativa, com perguntas via Internet, interrupções da “platéia” e do showman Luli. Sem dúvida alguma, a melhor palestra (se é que podemos chamar dessa forma) do evento.

Faltou foco

Alguns temas foram explorados talvez com o conteúdo certo, mas de maneira errada. Faltou, em alguns momentos importantes, foco dos palestrantes na audiência, no seu público-alvo. Não dá para apresentar 10 mil slides com texto para uma platéia formada essencialmente por profissionais web. Não dá, definitivamente, para apresentar um texto-piada-spam num slide sendo o texto altamente rodado na Internet (com textos como “você aperta 0 em casa para falar ao telefone”). E por favor, apresentação de portfolio bancário numa palestra sobre os impactos da Internet no mercado tradicional, não dá. Pior ainda é afirmar que cartão de crédito é ferramenta de inclusão digital e social. Putz! Serasa e SPC mudaram de nome?

Duas palestras, apesar de terem sido ÓTIMAS, deixaram muito a desejar, pois apresentaram apenas cases de publicidade e guerrilha. Faltou conteúdo explicativo, educacional, evangelizador. Gente, a platéia é seu público. E esse público já é gerador desse conteúdo, já foi ou será muito em breve. Sessão YouTube é coisa para rolar no Gafanhoto, com entrada e cerveja gratuitas. O <jabá mode on> deveria ser aplicado no telão na maior parte do tempo.

Considerações

O InterCon foi, de longe, um dos mais interessantes eventos que já participei. Isso não quer dizer que tenha sido perfeito, óbvio. Várias idéias certamente surgiram no evento desse ano e é bastante provável que a maioria delas será implementada no próximo. Para ajudar, aqui vão minhas sugestões:

  • Foco na audiência. Não convidem pessoas para palestras-jabá-versão-1.0. Desfigurem o modelo, apostem na diversidade.
  • Promovam a interação desde o iní­cio. Um telão onde os twitter fossem levados automaticamente é uma idéia bárbara. Os participantes podem fazer perguntas diretas via Twitter.
  • Criem mais desconferências, estimulem os palestrantes a abrirem mais as discussões.
  • Não limitem a banda de upload do wi-fi. Um bom blogueiro também tira fotos e faz videos e quer compartilhar isso o mais rápido. Uma água na mesa dos blogueiros também seria uma boa, e prova de atenção.

Parabéns ao pessoal do iMasters e que venha o próximo, melhor, maior e mais interativo.

Mais sobre o InterCon 2007

[tags]Evento, InterCon2007, Web, Desconferência, Redes Sociais, Twitter[/tags]

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